24 May 2007

O estupro da USP

Não estou em greve. A decisão tomada por uma assembléia de 300 professores da ADUSP não representa a minha posição, nem de muitos colegas que conheço e nem, arrisco a afirmar, da maioria dos quase 5000 docentes da USP. Da mesma forma, a greve decretada pelos estudantes não representa a posição de parcela significativa de meus alunos. Mesmo que aqueles contrários à greve sejam uma minoria é necessário respeitá-los. Entretanto, o que se vê é uma coerção injustificável por parte dos grevistas, impedindo, de forma violenta, o acesso às salas de aula. Nas raras ocasiões que uma aula consegue acontecer, um bando de alunos com bumbos, apitos e cornetas rapidamente aparece para impedir seu andamento. Jogam bombinhas e socam as portas e vidros da sala de aula, numa atitude de violência jamais presenciada nas últimas décadas.

Os grevistas clamam por mais democracia e pela preservação de seu direito à greve. Mas esquecem que um dos pilares de qualquer sistema democrático é a garantia dos direitos individuais de qualquer grupo, neste caso, daqueles que não desejam participar da greve. Não respeitar a posição dos colegas que não apóiam a greve é lançar a democracia no lixo da história.

Os atos presenciados relembram a época da ditadura militar onde o direito de ir e vir era cerceado e os professores eram impedidos de ministrar suas aulas. A diferença é que hoje isto é praticado por um bando de grevistas em pleno estado de direito. As autoridades universitárias mantém-se omissas e não tomam qualquer iniciativa para coibi-los. Não fazem valer seu papel de guardiãs do patrimônio da universidade.

E não me refiro apenas ao patrimônio físico, mas ao patrimônio maior de qualquer universidade digna desse nome: a liberdade de expressão e a diversidade de opiniões. Hoje os grevistas nos calam e nos impõem sua vontade pela força, impedindo-nos de exercer nossas atividades. A USP está tristemente sendo estuprada por uma minoria de seus próprios professores e alunos. Uma cena bizarra que acontece em pleno século 21 e que só faz relembrar os tempos de escuridão e violência que pareciam esquecidos.

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