30 January 2006

A incrível incompetência da universidade pública

Após ler a matéria publicada na Folha de S.Paulo de ontem, Prefeituras de SP terceirizam a educação fiquei estupefato. Afinal, como é possível que 129 municípios de S. Paulo comprem apostilas de cursos particulares, como Anglo e Objetivo, para distribui-los nas escolas públicas? Seria isto parte da tão temida privatização definitiva do ensino público?

A medida que lia o artigo da Folha um novo quadro começou a se delinear. Afinal, as apostilas fazem parte de um pacote que o município adquire, e esse pacote inclui o treinamento dos professores municipais e o correspondente planejamento pedagógico. De início, professores e alunos não gostaram da novidade pois a quantidade de matéria a ser ministrada é maior do que a usual. Afinal, estão usando apostilas de cursinhos! Mas os professores adaptaram-se e os alunos acostumaram-se ao novo ritmo e a fazer mais lição de casa, mostrando que existe material humano muito bom nas escolas públicas. Existem até famílias mudando-se para esses munícipios em busca de ensino de qualidade para seus filhos! Além disso, esses alunos estarão mais capacitados a prestar o vestibular em universidades estaduais e federais, aumentando o número de alunos provenientes de escolas públicas, e mostrando qual é a alternativa correta ao famigerado sistema de quotas.

Mas como professor de universidade estadual, ainda me sentia incomodado lendo o artigo. Afinal, porque as unversidades públicas não estão envolvidas nesse processo? Porque esse material não foi preparado por nós? E porque os cursos de treinamento não são ministrados nas universidades? Nas universidades públicas parte considerável dos docentes estão envolvidos em atividades de pesquisa. Graças às contínuas avaliações dos cursos de pós-graduação efetuadas pela CAPES e ao rigor do CNPq e FAPs no julgamento de pedidos de auxílio, a pesquisa vem crescendo de forma acentuada no Brasil, já tendo inclusive sido capa de renomadas revistas internacionais. Outra parte dos docentes, e também muitos pesquisadores, estão envolvidos com atividades de extensão e entre essas atividades estão incluídos os cursos de reciclagem e treinamento para professores do ensino médio. Tais cursos vêm sendo ministrados desde londa data, porém, eles não estão cumprindo o seu papel já que as prefeituras buscam convênios com escolas particulares. É claro que as atividades de extensão não estão sujeitas a avaliações rigorosas como acontece com os projetos de pesquisa e talvez isso explique essa terrível deficiência. Poderíamos imaginar que outro motivo para tal deficiência é a falta de recursos das universidades públicas. Porém, é bom lembrar que CNPq e FAPESP, por exemplo, mantém linhas de auxílio exclusivas para a área de ensino. Basta que sejam apresentados projetos competentes. Outra explicação talvez possa ser encontrada na reação de algumas pessoas da área entrevistados pela Folha. A crítica de um deles foi a de que os grupos privados estão mais preocupados com o conteúdo e com a preparação para o vestibular e menos com a formação geral. Outro disse que os convênios restringem a autonomia dos professores e podem torna-los dependentes do material e do método. Esses argumentos são lastimáveis pois mostram-se totalmente contrários à melhoria da qualidade do ensino! Afinal, uma boa formação geral não está em contradição com uma boa formação específica e o objetivo do segundo grau é o preparo para o vestibular.

A iniciativa privada está dando um banho na universidade pública. Sem dúvida somos melhores na pesquisa e na qualidade do ensino que ministramos mas somos incapazes de atuar fora de nossos muros. Mas acho que essa situação não irá ficar assim por muito tempo. Logo veremos educadores irados arguirem que tais convênios são ilegais e que só podem ser mantidos com universidades federais ou estaduais, privando a rede de ensino público da qualidade que ela merece. Pobre educação brasileira.

A melhor piada de loira!

Voce nem precisa saber inglês para compreender a sutileza da piada. Está aqui: The funniest blond joke ever.

29 January 2006

Podemos confiar na internet?

L. Motl tem um post interessante Influence of blogs and antiblogs, onde ele discute como a proliferação de blogs tem levado a disseminação de informações falsas pela internet, e porque muita gente tende a crer que se um blog é popular então podemos confiar nele. De fato, isso é verdade para qualquer homepage da internet tornando difícil para uma pessoa comum saber no que acreditar e no que não acreditar.

Uma situação semelhante aconteceu quando dei um seminário popular sobre cosmologia como parte das atividades do Ano Internacional da Física. No final da palestra um professor veio falar comigo e me disse que gosta de contar coisas sobre o big-bang, energia escura, buracos negros e outros tópicos para seus alunos, mas que ele nunca tem certeza se o que ele está falando é ficção científica ou ciência. Ele obtém informações através dos jonais e da internet mas nunca está seguro acerca de seriedade das informações. É claro que disse a ele que existem sites confiáveis como o da Wikipedia, New Scientist, Nature e outros. Isso mostra o quão sério a falta de informação segura pode ser e que temos o dever não só de escrever sobre ciência mas também o de indicar os lugares onde informações confiáveis podem ser encontradas.

Can we trust the internet?

L. Motl has an interesting post Influence of blogs and antiblogs, where he discusses how the proliferation of blogs leads to a dissemination of false information throughout the internet and that many people tend to believe that if a blog is popular then we can trust it. In fact, this is true for any homepage in the internet making it difficult for ordinary people to know which information is reliable and which is not.

Another aspect of this situation showed up last year when I gave a popular talk on cosmology as part of the activities for the International Year of Physics. At the end of the talk a school teacher came to me and told me that he likes to tell his students about the big bang, dark energy, black holes and other topics, but he is never sure if all this is science fiction or plain science. He gets all his information from newspapers and the internet but he is never sure about its seriousness. Of course, I told him that there are sites we can trust, like the Wikipedia, New Scientist, Nature and so on. This shows how serious the lack of reliable information can be and also that we have not only to write about science but also to show the places where reliable information can be found.