12 May 2006

Colóquio sobre gripe aviária

Isaías Raw, diretor do Instituto Butantã, deu um colóquio excepcional sobre a gripe aviária. Com seus mais de 70 anos, e muita experiência acumulada ao longo desse tempo, mostra uma disposição para o trabalho que raramente é vista nos pesquisadores mais jovens.

Ele começou o seminário traçando as diferenças entre o DNA e o RNA e as propriedades que o vírus da gripe aviária possui. Deu muitas informações importantes. Participou de várias reuniões internacionais sobre uma eventual pandemia. Vai ser um salve-se quem puder. As indústrias farmaceuticas do primeiro mundo não estão preparadas para produzir um número suficiente de vacinas e cada país vai obviamente vacinar primeiro parte de sua população. O terceiro mundo vai ficar completamente desamparado. Ele propos que quando aparecesse o primeiro foco da epidemia, provavelmente no oriente, houvesse uma vacinação em massa da população local, mas sua proposta foi descartada.

Por essa razão ele está construindo uma fábrica de vacina da gripe aviária no Butantã. Serão utilizados ovos de galinha para a produção do vírus e porisso a vacina vai ser muito mais barata do que a produzida no exterior. Ele criticou fortemente a inexistente indústria farmaceutica brasileira que so é capaz de embalar produtos trazidos de fora. Numa eventual pandemia, o Brasil não terá como produzir antibiótico suficiente para tratar as infeções resultantes da gripe. Ele mencionou que a única indústria nacional produtora de insulina foi comprada por uma multinacional e foi sucateada. Agora está fechada e toda insulina é importada. O CADE, que se preocupa com a guerra dos refrigerantes e cervejas, sequer pronunciou-se sobre o fato.

Ressaltou a importância do Butantã ter pesquisa básica, desenvolvimento e produção de vacinas, fonte de seu sucesso, enquanto outros institutos governamentais optaram apenas por embalar os medicamentos. Lembrou a forte resistência das multinacionais contra o Butantã, por produzir vacina barata e com isso permitir ao governo fazer campanhas de vacinação em massa, campanhas essas inexistentes em outros países subdesenvolvidos. Mais ainda, reconheceu que no Brasil há um enorme fosso entre a universidade e a indústria, entre a pesquisa básica e a produção. E que enquanto essa distância não for diminuída continuaremos a ser um país de terceiro mundo.

Longa vida ao velho mestre.

UPDATE: Deveria ter fornecido alguns links sobre a gripe aviária mas esqueci de faze-lo. Um bom conjunto de links pode ser encontrado no final deste post do Daniel Ferrante.

1 comment:

Marco Aurélio said...

Victor

Você já viu um fractal?

Um abraço

Marco Aurélio