É extremamente interessante a análise feita por Marcelo Billi em Ciência avança no país, mas não gera riqueza. De fato, o Brasil tem aumentado de forma significativa sua produção científica mas tem sido incapaz de transforma-la em inovações tecnológicas ou em aumento de competitividade. O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, aponta corretamente alguns motivos pelo qual isso acontece: a formação de pesquisadores é uma tarefa recente e a maioria dos doutores é encaminhado para as universidades; o empresariado é conservador e não compreende a necessidade de pesquisa e inovação; não existiam ações coordenadas do governo federal para implementar politicas de pesquisa e desenvolvimento.
Há também um outro fator bastante enraizado nas universidades e que talvez seja melhor compreendido através de um episódio pessoal. Durante meu doutorado em Londres, no final da década de 70, tive vários colegas de curso que eram inglêses. Três deles terminaram o doutorado e jamais se dedicaram à pesquisa científica. Um foi trabalhar num banco, outro no serviço secreto inglês e o terceiro numa indústria eletrônica. O que muito me impressionou foi que todos eles iniciaram o doutorado já tendo em vista não trabalhar em universidades. Todos concluiram o doutorado em física, mais precisamente em supersimetria, uma área teórica recém descoberta na época, sem nenhuma aplicação imediata. Obviamente eles não foram contratados pelos seus conhecimentos de supersimetria. Conseguiram emprego pelo fato de terem sido treinados para lidarem com situações inusitadas, serem capazes de desenvolver estratégias para enfrentar condições novas e pela habilidade de gerarem técnicas para trabalhar em terreno inóspito e inexplorado. Os empresários inglêses sabem exatamente onde ir buscar pessoal com esse perfil. No Brasil, infelizmente, poucas pessoas sequer sabem que esse tipo de preparação existe nas universidades. De fato, nem os empresários e nem os alunos estão cientes disso. A pós-graduação é voltada quase que exclusivamente para a formação de pesquisadores que farão carreira universitária. É necessário que tal atitude seja modificada dentro da universidade se quisermos gerar uma contribuição significativa para o crescimento do país. É essencial que tal tipo de preparação seja melhor difundida pois nem todos encontarão emprego nas universidades. Isso não significa que devemos diminuir os padrões de exigência da pós-graduação ou das teses apresentadas. Afinal, não há nada de errado em fazer a pós-graduação em cosmologia para depois trabalhar numa indústria de ponta. E o govêrno deve fazer sua parte, incentivando os empresários a investirem em pesquisa e desenvolvimento.
UPDATE: Para quem quizer outras histórias de doutores em áreas sem aplicação imediata e que foram para a indústria, veja o blog do Daniel Ferrante.
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